sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Lenio Streck e o diurético.


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O antidoping e (os perigos representados por) cortinas de fumaça!
Lenio Luiz Streck

Lendo e escutando rádio acerca dos episodio envolvendo dois jogadores do Inter com substâncias proibidas detectadas no exame antidoping, fiquei impressionado – não só eu, mas a metade do Rio Grande – com o tamanho da cortina de fumaça que a imprensa faz para desqualificar o fato, minimizá-lo e fazê-lo se esfarelar, com isso salvando a pele dos atletas e, fundamentalmente, tirar o porco das costas do clube.
Não, não devemos partir do fato de que os jogadores (ou o clube) são culpados. Mas também não podemos partir da premissa de que são inocentes tabula rasa. Caso contrário, não há possibilidade de descobrir nada. Na primeira hipótese, corre-se sempre o risco de, sem investigar, apontar culpados. Isso é ruim. Mas, na segunda hipótese, há o sério risco de se inocentar SEM investigar. E isso é péssimo.
Um diurético. Eis o busilis. Foi por ingestão involuntária? Como assim? Eram bebês brincando com remédios? Ah: remédios para emagrecimento? E tomaram achando que engordariam? Ninguém sabe que diuréticos escondem outros medicamentos? 
Tese dois: foi um polivitamínico. Mas tomaram sem o conhecimento dos médicos? E por coincidência, tomaram juntos? Fico imaginando a cena: os dois jogadores, à socapa e à sorrelfa, combinando a compra dos polivitamínicos ou os diuréticos. “- Não vamos contar para ninguém. Esse é o nosso segredo”.
Tese três: É muito difícil descobrir como a droga chegou no organismo. Bom, há três modos: ingerindo pela boca, injetando por agulha ou por supositório. A não ser algum componente que possa ser colocado esfregando na pele, não há outro modo de responder a pergunta “céus, como a droga chegou no organismo”. 
Tese quatro: inversão do ônus da prova. "Tem que descobrir por que a droga apareceu (?) no organismo". OK. Mas essa prova é dos jogadores e do clube e não do laboratório que detectou a substância.
Cacalo, no Sala de Redação, tentou, sem sucesso, pegar uma interessante linha de raciocínio. Mas ninguém quis ouvi-lo, em face da fumaceira que havia. Dizia Cacalo: a ingestão de medicamentos (drogas lato sensu) não é proibida apenas pelo fato de dar um plus no desempenho do atleta, mas também para não colocar o tomador em condição de desigualdade com os demais. Por exemplo: jogadores com gripe. Por que não pode tomar medicamentos proibidos? Porque o jogador que tomar estará em vantagem em relação a um adversário também com gripe e que não tomou o diurético ou o composto vitamínico.
O que a imprensa deve fazer não é balizar o fato, brincando e fazendo anedotas sobre doping de cavalos ou água nas garrafas de jogadores. Não. Trata-se de um episodio muito sério e que deve ser investigado. E os veículos que se dedicam ao esporte devem estar atentos. Não devem fazer cortina de fumaça ou vitimizar os jogadores ou, o que também seria um problema, colocar simplesmente a culpa nos jogadores, absolvendo o clube. 
Por que não se seguiu uma linha investigativa buscando a “jurisprudência” acerca desse tipo de caso?  Por exemplo: Laudo suplementar: há chance de ter algum componente da Hidroclorotiziada, que serve para que outras substâncias não apareçam no antidoping? Como foram os casos de Carlos Alberto; Fred; Nadadores; e no UFC? Diuréticos já pegaram muitos atletas. Ora, uma boa pesquisa pode ajudar em um jornalismo minimamente investigado. Existe vasto material de especialistas sobre o uso do maleficio desta droga no esporte.
O que não se pode fazer é querer que a patuleia toda acredite que dois jogadores experientes tomaram por acidente ou foram surpreendidos pela inclusão do diurético  num suplemento vitamínico!!!!! Isso pode até ter ocorrido. Mas, pelo bem da informação e da democracia – já que se fala tanto em liberdade de informação – toda a malta precisa ser informada dessa (infeliz) circunstância ou contingência.